13 de fev. de 2010

Neuropsicologia e seus objetivos



CFP - Conselho Federal de Neuropsicologia. (2004). Resolução nº 02/2004 Reconhece a Neuropsicologia como especialidade em Psicologia para finalidade de concessão e registro do título de Especialista.

Estuda os distúrbios cognitivos e emocionais, bem como os distúrbios de personalidade provocados por lesões do cérebro. Ao receber e interpretar as informações sensoriais e ao comunicar-se com os outros, utilizando-se de suas funções cognitivas exprimi as lesões sofridas em desordens comportamentais.

Essa é a razão pela qual a neuropsicologia também é chamada de neurologia comportamental.

Objetivos :

Atuar no diagnostico, acompanhamento, tratamento e pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre aspectos e o funcionamento cerebral.

Utiliza instrumentos especificamente padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem raciocino, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação visou-construtiva, afeto, funções motoras e executivas.

Estabelece parâmetros para emissão de laudos com fins clínicos, jurídicos ou de perícia, completa o diagnostico na área do desenvolvimento e aprendizagem.

Os objetivos são de levantar dados clínicos que permitam diagnosticar e estabelecer tipos de intervenção, e reabilitação particular e específica para pacientes e grupos nas seguintes condições:

Paciente que apresentam prejuízos ou modificações cognitivas ou comportamentos devido a eventos que atingiram primaria ou secundariamente o sistema nervoso central.

O potencial adaptativo não é suficiente para manejo da vida pratica, acadêmica, profissional familiar ou social.

Foram geradas ou associadas a problemas bioquímicos ou elétricos do cérebro, decorrendo disto modificações ou prejuízos cognitivos, comportamentais ou afetivos.


Algumas das Enfermidades neurológicas e multidisciplinares que são atendidas na área de Neuropsicologia:

Adultos

TCE (trauma crânio encefálico)
AVC (acidente vascular cerebral)
Alterações cognitivas pós AVC
Encefalites, HIV, vasculites etc
Esclerose múltipla
Demências
Tumores do sistema nervoso central
Parkinson
Epilepsia
Doenças de Alzheimer
Agnosias visuais, construtivas etc
Afasias, Disartrias
Avaliação de déficit cognitivo associado ao alcoolismo (demência Werneck Korsakoff)
Avaliação de déficit cognitivo associado a drogas (cocaína , cola, etc.)
Avaliação dos déficits cognitivos na esquizofrenia
Diagnóstico diferencial das dismnésias (depressão versus demência)

Crianças

Avaliação de déficit intelectual congênito
TDAH Transtorno de déficits de atenção e Hiperatividade
Distúrbios Mnésticos (problemas de memória)
Distúrbios de Aprendizagem
Dislexias, discalculias
Raciocínio matemático
Velocidade de processamento de informação
Enurese, encoprese, etc


O neuropsicólogo é um neurocientista 
 Até alguns anos atrás era prática comum entre os psicólogos aplicarem o Teste Gestáltico Visomotor de Bender (Koppitz, 1989) e encaminhar o paciente ao neurologista quando o desempenho se caracterizava por um número excessivo de “indicadores de organicidade”. Tal prática pode ser tomada como ilustrativa de uma negligência profunda da estrutura anátomo-funcional do cérebro. É como se fosse tudo a mesma coisa. Não teria a menor importância se o comprometimento inferido fosse difuso ou focal, cortical ou subcortical, no hemisfério direito ou esquerdo, etc. Sarcástico, um grande amigo meu falava assim: “Este povo não sabe nem de que lado fica o cerebelo”. Convém não esquecer que os padrões gráficos produzidos pelas crianças se prestavam também a interpretações psicanalíticas (Koppitz, 1989).
Neuropsicologicamente o teste de Bender, junto com outras provas gráficas tais como a cópia da figura complexa de Rey (Strauss, Sherman & Spreen, 2006), é uma tarefa que avalia habilidades viso construtivas, sendo extremamente útil na detecção de déficits viso espaciais – ligados principalmente ao lobo parietal – e disfunções executivas – associadas tradicionalmente ao lobo frontal. Extrair do desempenho no teste de Bender apenas “indicadores de organicidade” é se comportar em relação ao cérebro como muitos pacientes com lesão do lobo parietal direito se comportam em relação ao hemiespaço contralateral, negligenciando-o.
A negligência do cérebro caracterizou algumas escolas importantes em Neuropsicologia. Um exemplo ilustre é a escola psicrométrica iniciada por Ward Halstead e continuada por Ralph Reitan (Reitan & Wolfson, 2009). A participação de psicólogos na Neuropsicologia se intensificou somente a partir dos anos 1930 (McBryde & Weisenburg, 1935, Ombredane, 1929). Àquela época, muitos “neuropsicológos” apenas comparavam estatisticamente o desempenho de grupos de pacientes com grupos de controles em inúmeras tarefas e constatavam o poder discriminatório das diferentes provas, sem se importarem com os detalhes anátomo-funcionais. Ou seja, não havia muita preocupação com a validade de construto. Uma analogia pode ser feita com a análise behaviorista da tríplice contingência, a qual também colocava o cérebro-mente entre parênteses. Esta atitude reflete ainda o predomínio das correntes antilocalizacionistas da Neuropsicologia da época (Head, 1920).
A negligência cerebral da abordagem puramente psicrométrica contrasta com outras escolas da Neuropsicologia, edificadas a partir de modelos anátomo-funcionais. Ges-chwind (1965a,b), p. ex., resgatou e reabilitou os conceitos localizacionistas clássicos, salientando a importância da conectividade cortico-subcortical para a interpretação dos sintomas neuropsicológicos. Por outro lado, Luria (1977) construiu seu referencial interpretativo das observações neuropsicológicas a partir do conceito de sistemas funcionais, para quais concorreria a atividade funcional de diversas regiões cerebrais anatomicamente dispersas.
A Neuropsicologia cognitiva (Shallice, 1988, Temple, 1997) também foi tentada a negligenciar o cérebro na sua infância. Até meados dos anos 1960 o exame neuropsicológico era um dos principais recursos não-invasivos para o diagnóstico localizatório em neuropsiquiatria. O diagnóstico de localização era realizado com a utilização de um sistema de três coordenadas cartesianas remontando à neurologia do Século XIX (Luria, 1977). O enfoque cognitivo-neuropsicológico permitiu que os complexos padrões de processos neuropsicológicos comprometidos e preservados fossem interpretados em termos de modelos de processamento de informação.
O entusiasmo inicial com os modelos de processamento de informação fez com que alguns pesquisadores defendessem uma posição “funcionalista”, segundo a qual a Neuropsicologia poderia prescindir dos detalhes anátomo-funcionais, concentrando-se na análise cognitiva dos sintomas (vide, p. ex., Caramazza, 1984, 1986). Esta posição foi justificável apenas enquanto a Neuropsicologia cognitiva andava de tamanquinhos. Da mesma forma que a abordagem behaviorista radical foi defensável até o momento em que não havia modelos de processamento de informação, uma abordagem puramente psicrométrica ou cognitiva à Neuropsicologia não se sustenta mais a partir do momento em que contamos com métodos não-invasivos para investigar em tempo real os processos neurais subjacentes à atividade cognitiva.
A disseminação do uso das técnicas de neuroimagem funcional demonstrou que os modelos cognitivos constituem importantes ferramentas conceituais, permitindo mapear as complexas associações entre padrões de ativação cerebral e processos neuropsicológicos. Surgiu assim a neurociência cognitiva (Posner & DiGirolamo, 2000). A aplicação clinica da neuroimagem funcional está engatinhando, mas os neuropsicológos não podem mais ignorar os seus resultados. Sob pena de serem acusados de não saber “de que lado fica o cerebelo”.
A mensagem importante é que os construtos neuropsicológicos são neurais. A interpretação dos resultados neuropsicológicos depende de modelos da estrutura anátomo-funcional do cérebro (Haase et al., 2008a,b, 2010). A neuropsicometria é uma técnica estatística. Os modelos neurocognitivos são ferramentas conceituais. A validade de construto da neuropsicologia depende do estabelecimento de uma relação entre os seus dados empíricos e a estrutura anátomo-funcional do cérebro.
neuropsicólogo é um neurocientista e, como tal, a neuropsicologia é uma área interdisciplinar de pesquisa e atuação clinica. O comportamento de restringir a neuropsicologia à aplicação de testes ou de reservar o mercado para uma área profissional como a psicologia, pode ser caracterizado como “negligência cerebral”

por Vitor Geraldi Haase

Doutor em Psicologia Médica pela Ludwig-Maximilians-Universität zu München
Professor titular do Departamento de Psicologia da UFMG
Coordenador do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND)




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Referências
Caramazza, A. (1984). The logic of neu-ropsychological research and the problem of patient classification in aphasia. Brain and Language, 21, 9-20.
Caramazza, A. (1986). On drawing infer-ences about the structure of normal cognitive systems from the analyses of patterns of im-paired performance: the case for single-patient studies. Brain and Cognition, 5, 41-66.
Geschwind, N. (1965a). Disconnection syndromes in animal and man. Part I. Brain, 88, 237-294.
Geschwind, N. (1965b). Disconnection syndromes in animal and man. Part II. Brain, 88, 585-644.
Haase, V. G., Pinheiro-Chagas, P., da Mata, F. G., Gonzaga, D. M., Silva, J. B. L., Géo, L. A. & Ferreira, F. O. (2008a). Correlação estru-tura-função no diagnóstico neuropsicológico. In K. Z. Ortiz, L. I. Z. de Mendonça, A. F., Veloso, C. B., dos Santos, D., Fuentes, D. & D. A. Azambuja (Orgs.) Avaliação neuropsi-cológica. Panorama interdisciplinar dos estu-dos atuais na normatização e validação de instrumentos no Brasil (pp. 13-37). São Paulo: Vetor (ISBN: 9788575852484).
Haase, V. G., Pinheiro-Chagas, P., da Mata, F. G., Gonzaga, D. M., Silva, J. B. L, Géo, L. A. & Ferreira, F. O. (2008b). Um sistema nervoso conceitual para o diagnóstico neuropsicológico. Contextos Clinicos, 1, 125-138.
Haase, V. G., Medeiros, D. G., Pinheiro-Chagas, P. & Lana-Peixoto, M. A. (2010). A “Conceptual Nervous System” for multiple sclerosis”. Psychology & Neuroscience, 3, 167-181.
Head, H. (1920). Aphasia and kindred disorders of speech. Brain, 43, 87-165.
Koppitz, E. (1989). O Teste Gestaltico Bender para Crianças. Porto Alegre: ArtMed.
Luria, A. R. (1977). Las funciones cortica-les superiores del hombre. Habana: Orbe.
McBride, K. & Weisenburg, T. (1935). Aphasia. New York: Commonwealth Fund.
Ombredane, A. G. (1929). Les troubles mentaux de la sclérose en plaques. Paris: PUF.
Posner, M. I., & DiGirolamo, G. J. (2000). Cognitive neuroscience: origins and promise. Psychological Bulletin, 126, 873-889.
Reitan, R. M. & Wolfson, D. (2009). The Halstead-Reitan Neuropsychological Test Battery for Adults – theoretical, methodo-logical, and validational bases. In I. Grant & K. M. Adams (Orgs.) Neuropsychological assessment of neuropsychiatric and neu-romedical disorders (pp. 3-24, 3a. ed.). New York: Oxford University Press.
Shallice, T. (1988). From neuropsychology to mental structure. Cambridge: Cam-bridge University Press.
Strauss, Sherman & Spreen (2006). A compendium of neuropsychological tests: administration, norms, and commentary (3a. ed.). New York: Oxford University Press.

Temple, C. (1997). Developmental cognitive neuropsychology. Hove, UK: Psychology Press.

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